A neurociência afirma que o sentido do olfato possui conexão direta
com o processamento de emoções e memórias. A maioria das impressões
sensoriais passa primeiro pelo córtex cerebral, responsável pelo
julgamento crítico. O que cheiramos, porém, passa direto pela “censura” e
atinge em cheio o sistema límbico, região do cérebro responsável pelas
emoções. É por isso que uma fragrância pode nos trazer lembranças de
ocasiões especiais e evocar os sentimentos mais profundos. O aroma do
bolo que sua avó fazia, o cheiro da chuva sobre a grama, o perfume da
pessoa amada… Mas também pode fazer a gente torcer o nariz – como a
fumaça do trânsito, aqueles alimentos que a gente não gosta, o lixo, e
por aí vai. É por isso que a indústria investe cada vez mais no
marketing olfativo. Por exemplo, shopping centers que aplicam óleos
essenciais no ar condicionado, lanchonetes que espalham aromas de café e
pão de queijo para estimular o apetite, etc. Na indústria cosmética,
esse é um campo sem limites para a criatividade dos fabricantes.
Todo perfume é sentido em três etapas. Primeiro, temos aquelas notas
mais leves, voláteis, percebidas imediatamente. Segundo, as notas que
expressam a personalidade do perfume, que evaporam mais devagar. E
finalmente, as notas mais densas, que evaporam ainda mais lentamente e
permanecem por horas e até dias. Em perfumaria, isso é conhecido
respectivamente como “notas de saída”, “notas de coração” ou “corpo”, e
“notas de fundo” ou “base”. O cheiro é uma soma dos efeitos desses três
notas. Mais ou menos como na música, onde temos três níveis de notas
(agudas, médias e graves) formando acordes.
Na alimentação, o aroma é fundamental para a percepção do sabor.
“Temperar” tem a mesma raiz latina da palavra “tempo”, e significa
relacionar, equilibrar, harmonizar. A palavra inglesa season designa
tanto as estações do ano quanto o ato de temperar, pela mesma razão.
Alimento “temperado” significa alimento maduro, colhido no ponto certo.
Podemos relacionar as três notas da fragrância com os três sistemas
do corpo humano segundo a antroposofia: o neurossensorial (mais ligado à
cabeça, pele e órgãos dos sentidos), rítmico (sediado no tórax) e
metabólico (membros e genitais). Rudolf Steiner dizia que o cheiro de
uma planta é reflexo da influência cósmica com a qual ela está
relacionada. Assim, o aroma de lavanda acalma; o alecrim desperta; o
limão equilibra; a violeta alegra, o incenso eleva, e assim por diante.
Comparando as plantas umas com as outras, podemos ver claramente como os
quatro elementos da natureza atuam de forma distinta sobre elas.
Óleos essenciais como limão, laranja, lavanda, eucalipto são exemplos
de notas de saída. Rosa, gerânio, magnólia, são exemplos de notas de
coração. E por fim, fragrâncias obtidas de resinas e madeiras como o
pinho e a canela são exemplos de notas de fundo. A arte da perfumaria
consiste em harmonizar essas tendências. Porém, a indústria cosmética
convencional usa algumas fragrâncias sintéticas, não existentes na
natureza. E também os “fixadores”, feitos principalmente a partir de
secreções e hormônios animais. O almíscar, extraído das glândulas do
cervo-almiscareiro, é um dos aromas mais penetrantes e persistentes que
se conhece. Com ela, o animal é capaz de transmitir o seu odor a
quilômetros de distância, atraindo as fêmeas e afastando outros machos.
Quem tem cachorro em casa sabe muito bem disso.
Pela ação dos aromas sobre as emoções, já descrita acima, percebe-se
claramente como alguns aromas atuam diminuindo a consciência e
despertando os instintos, ao passo que outros nos elevam no sentido da
espiritualidade. Por isso, a cosmética natural e orgânica rejeita o uso
de hormônios animais em suas formulações e não utiliza fragrâncias
sintéticas, por acreditar que mais do que um simples “cheiro”, o aroma
traz em si as propriedades terapêuticas da planta. As fragrâncias dos
cosméticos verdadeiramente naturais são suaves e saudáveis para o corpo e
para a mente.
Texto retirado de:
Biblioteca Virtual de Antroposofia.
Responsável: Leonardo Maia
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